Levantam-se cedo, comem o primeiro almoço, quase sempre uma refeição feita de pão, queijo ou chouriço, bebem vinho ou café de cevada, de seguida vão aos palheiros, aparelham os animais e com eles seguem para os campos, onde, agarrados ao arado, enxada ou enxadão, rasgam as terras, mexendo-as de tal forma e arte, que as leivas e torrões se transformam em terra fofa. Escolhem a grama e algumas pedras, o que foi rude e bravo é agora produtivo. Semeiam, desbastam, regam e colhem.
Outros rasgam a terra, abrindo poços e minas à procura de nascentes. Resinam pinheiros, constróem casas e muitos palheiros. Fazem arcas, mesas, bancos e cadeiras. Fabricam carros e carroças, albardas panelas e sapatos. O que fazem é com amor e arte, tudo da sua imaginação.
São assim os homens da aldeia
Ao cair da noite, quando os mochos e corujas começam a piar, regressam a casa. Fecham o gado e dão de comer aos animais. Passam pela taberna, falam do tempo e das colheitas, bebem vinho ou aguardente e fumam tabaco de mortalha.
À porta de casa, sentam-se no poial e falam com os filhos, estão enfadados mas fazem por esquecer, em todos os seu actos denotam muita alegria e saber. Contam aos filhos histórias de fazer de rir ou chorar, umas reais outras inventadas. Entram em casa e sentam-se à mesa para cear. Mais tarde, vão para a cama e fazem amor com a mulher sua amada. Na árvore do quintal, pela noite dentro, um rouxinol vai cantando bonita cação de embalar.
Como são felizes os homens da aldeia
Poucos conhecem as cidades e muitos deles nunca viram o mar.
Nascem, vivem e morrem na terra que os viu crescer
Muitos homens, poucos nomes, João, António, Manuel ou Joaquim, isso pouco interessa, o alcunha sim, cada um terá o seu; o Diabrete, Zé Banda ou Zé Poeira, Zagalote, Grão de Bico ou Cara de Bolacha, sempre assim se conheceram.
Pela noite escura, quando pela rua passam, deixam rasto; o sapatear, tossido ou cheiro é suficiente para falarem – boa noite - boa noite - venha com deus - que deus o acompanhe.
Há homens ricos e homens pobres, uns com sorte outros com alguma desventura.
Zé. O ti Zé Augusto, veio de terra distante, foi resineiro, mineiro, taberneiro e por fim lavrador. Teve juntas de bois "cabano e ramalhete", mulas e machos e alguns burros também. Contou histórias e fez versos, tocou harmónio e flauta e, muitas vezes até cantou, "as flores em Maio se juntam / para visitar o castelo / todas vão de branco / o pampilho de amarelo"
Quando entra nas tabernas, transporta com ele uma onda de alegria, bebe alguns copos de vinho e desabafa - é para esquecer esta triste sina minha.
Ti Zé, Que companhia!
Conta histórias da moura encantada, do homem carregado de silvas visto na Lua, da princesa encarcerada e outras mais, que ao ouvi-las tudo pára e se esquece. Recuamos no tempo, séculos passados, sentimo-nos na Fonte Santa, no Poço da Moura, no Cabeço da Forca, nas margens dos Rios ou das Ribeiras, ouvindo a água a correr e a passar de pedra em pedra sem nunca parar. E nestas águas, onde alguma areia se mistura, há quem procure encontrar pepitas de ouro, que de seguida levam para a Vila e por comer vão trocar. Histórias e contos que tanta coisa fazem sonhar, sonhar...