O Almanaque


Em meados do século passado, ou melhor dizendo, até à década de setenta; nas aldeias, ter o almanaque do ano corrente, era considerado um “luxo”. O seu custo aproximava-se dos vinte e cinco tostões, por este motivo, poucos camponeses o compravam. Quem tivesse muitas terras e gado, adquiria-o facilmente, bem dizendo dava muito jeito. Tinha de tudo um pouco; as fazes da lua, as sementeiras as colheitas e o tempo. Numa aldeia com uma centena habitantes, dois ou três almanaques foram o suficiente para as diversas consultas. O problema maior é que: poucos sabem ler. Há quem o compre e guarde secretamente - dando a entender que adivinha o tempo. Mas também há, quem publicamente o anuncie. O ti Augusto, foi um exemplo disso.
“Truz” “Truz”.
Alguém bate à porta.
- Quem é?
- Sou eu, o Tónho
- Ah, és tu ..., eu vou já.
O ti Augusto, desprende o trinco e abre a porta da casa.
- Ó Tonho, que raio tu queres a esta hora?
- Só quero saber o tempo para esta semana.
- Oh homem de Deus, eu sei lá!
- Mas vossemecê não tem o almanaque?
- Ter tenho, mas eles não têm acertado em nada!
- Ó Tonho, tu acreditas neles?
- Acredito sim! Porque não hei-de acreditar?
- Então prepara-te porque eu vou ler.
“Para esta semana, de três a dez de Março de 1966, vai haver muito frio, muita chuva e geada. Uma semana deveras desastrosa para a agricultura ...”
- Como estás a ver, não temos frio, nem há geada. Chuva, essa então nem vela! Queres que eu leia mais ou já chega?
- Já agora, leia mais um pouco.
- Ó Tonho, mas tu acreditas neles - desabafa o ti Augusto.
- Em tudo não acredito, mas que há muita coisa a bater certo é verdade.
- Mas olha, nestes últimos quinze dias, nada bateu certo!
- Provavelmente acertam para a próxima semana - comenta o ti António
- Veremos, veremos!
O ti Augusto, fecha a porta e deixa “a bíblia do tempo” sobre a mesa da cozinha. O ti António, nada satisfeito, segue caminho abaixo em direção ao palheiro do burro.
Mas, o ti Augusto, acha que, qualquer coisa não está a bater certo - é muita a diferença, está tudo ao contrário, o almanaque nunca tanto se engana. Para tirar as suas dúvidas, faz nova consulta à sua “bíblia do tempo”. Concentra-se na primeira página, e logo dá pelo grande erro.
- Fui enganado, bem enganado; na feira de Janeiro, venderam-me um almanaque do ano passado ..., assim sendo, nada pode bater certo.
Sai de casa apressadamente e procura o ti António.
- Ó Tonho. Ó Tonho, espera aí ..., anda cá.
- Ó ti Augusto o que vossemecê quer?
- Ó Tonho, fomos enganados, o cauteleiro vendeu-me um almanaque trocado, este é do ano passado, do ano passado de 1965.
- Ó ti Augusto, eu bem lhe disse, o almanaque raramente se engana.
- Isso é verdade, mas eles também se enganam.
- Ó Tonho, mas tu acreditas neles?
- Em tudo não, mas há muita coisa a bater certo.
Assim sendo, o ti Augusto foi à Vila/Belver, e na drogaria do Senhor Miguel, comprou a sua “bíblia do tempo” o almanaque do ano corrente, 1966.

A.Gueifão

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